4 de Agosto de 2025
COLÓNIA BALNEAR DA NAZARÉ – Relatório de Frequência e Despesa (1941-1953)
![]() |
![]() |
![]() |
PT/ADSTR/PSS/APD/A-E/002 | ||
[1954?]-[–]-[–]
Frequência e despesa da Colónia Balnear da Nazaré entre 1941 e 1953.
PT/ADSTR/PSS/APD/A-E/002 – Portugal. Arquivo Distrital de Santarém. Artur Proença Duarte: Atividade Pública: Presidente da Junta da Província do Ribatejo, Documentos diversos, Cx. 6.
Agosto sabe a mar e a rio, a planície e a montanha, a sossegos e a festivais, a reencontros…
Sabe a crianças marulhando na areia, a sorrisos e a castelos refeitos, a brumas frescas, sol árido e ondulações que, na dialética dos dias, nos moldam a tez e fixam o ser na imensidão…
Nas palavras de Maria Rosa Morgado, poetisa abrantina natural da Barquinha: Eu sou o mar correndo sem fim / Crescendo, faiscando, imagem destorcida / Eu sou vida pulsando / Movendo-me, expandindo-me criando.
O Arquivo Distrital de Santarém destaca, assim, um documento associado à atividade da Junta da Província do Ribatejo na promoção de férias a crianças desfavorecidas do distrito, com o objetivo de “fortalecer a criança, prepará-la para a vida, dando-lhe vigor e saúde”.
Em junho do ano passado privilegiámos o concurso para fornecimento de bibes e fatos de banho. Este ano destacamos um documento conservado no arquivo pessoal de Artur Proença Duarte referente à atividade da Colónia Balnear da Nazaré entre a data da abertura,1941, e o ano de 1953.
1. ARTUR PROENÇA DUARTE
Artur Proença Duarte nasceu em Oledo, Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco a 30 de julho de 1894.
Era filho de Diogo Duarte e de Piedade Proença, proprietários.
Casou em Almeirim com Emília da Silva Santos a 6 de dezembro de 1927 e faleceu em 27 de outubro de 1969, em Santarém (Marvila).
Estudou no Colégio de São Fiel, na Covilhã, e no Liceu de Castelo Branco, licenciando-se em Direito pela Universidade de Coimbra em 1917.
Foi advogado em Torres Novas e em Santarém, professor provisório no Liceu Nacional Sá da Bandeira e presidente do Conselho de Administração do Amoníaco Português (1945-1960).
Foi ainda presidente da Comissão Distrital de Santarém da União Nacional (1946-1960); presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Santarém; membro do Conselho Municipal de Santarém (1935-1945); presidente da Junta de Província do Ribatejo (1941-1959); membro do Conselho Geral da Junta Nacional do Vinho (1943-1961); presidente do Orfeão Scalabitano (1925-1954); presidente do Círculo Cultural de Santarém (1954-1969) e presidente da Assembleia Geral do Sindicato Agrícola de Santarém.
Faleceu a 27 de outubro de 1969.
2. A JUNTA DE PROVÍNCIA DO RIBATEJO E O PREVENTÓRIO-COLÓNIA BALNEAR DA NAZARÉ
![]() |
PT/AMVT – Postal de recordação para os meninos que frequentavam a colónia, 1941. |
A Junta de Província do Ribatejo, responsável pela construção e manutenção da Colónia Balnear da Nazaré, foi criada em 1936, sendo constituída por 20 concelhos da extinta Província da Estremadura.
O “Preventório-Colónia Balnear da Nazaré” foi inaugurado no dia 8 de junho de 1941 e construído no âmbito do programa de assistência infantil da Junta de Província do Ribatejo, destinando-se a crianças pobres.
De acordo com o regulamento interno, a colónia funcionava de 20 de junho a 20 de agosto; tinha lotação de 110 crianças entre os 7 e 12 anos em turnos de 20 dias e as entidades concelhias suportavam os custos de transporte e uma diária.
3. O RELATÓRIO DE FREQUÊNCIA E DESPESA (1941-1953)
Pelo documento que destacamos ficamos a saber alguns pormenores interessantes acerca do funcionamento da Colónia Balnear entre 1941 e 1953, designadamente:
Início da construção: 1939
Inauguração: 1941
Superfície total:224 m2
Projetista:º Jaime Mendonça Ribeiro
Custo Construção:243$20
Lotação Inicial: 110 crianças / turnos 20 dias
Lotação entre 1945-1947: 110 crianças / turnos 17 dias
Custo ampliação:604$00
Lotação após 1948: 220 crianças / turnos 20 dias
Crianças beneficiadas entre 1941 e 1953: 10.067
Custo total obras e equipamento: 3.440.897$55
Custo total alimentação: 1.349.974$90
Comparticipação pelas entidades concelhias: 1.157.089$80
Transcrição:
Fortalecer a criança, prepará-la para a vida, dando-lhe vigor e saúde e evitando que seja um elemento que só possa viver à sombra da assistência, foi o objetivo que levou a Junta de Província do Ribatejo, como o melhor meio preventivo para a defesa da saúde da criança, a criar a sua modelar Colónia Balnear da Nazaré. Passaram então as Câmaras Municipais de toda a Província e outras entidades a contar com alojamentos, naquela praia, para as suas crianças pobres. Realizando esta notável obra, a Junta pôs à sua disposição um magnífico edifício, completamente mobilado, dotado de todos os requisitos indispensáveis a uma instalação desta natureza.
Não se enganou a Junta de Província do Ribatejo quando julgou que com a execução desta obra iria ao encontro dos desejos de todas aquelas pessoas de alma bem formada que à defesa da saúde da criança dedicam seus estudos, seus cuidados e a sua generosidade.
No ano de 1939 iniciou-se a construção da Colónia Balnear em terrenos com a superfície total de 7.224 m2, adquiridos pela quantia de 17.500$00. Feita esta aquisição e encarregado o Eng. Jaime Mendonça Ribeiro de elaborar o projeto, foi aberto concurso para a adjudicação da empreitada de construção do edifício. E em 15 de junho de 1941 era ele solenemente inaugurado, importando a sua construção em 454.243$20.
A lotação da Colónia era então de 110 crianças por cada turno, turnos estes que tinham a duração de vinte dias. A partir de 1945 o número de dias de cada turno foi reduzido para dezassete, para que assim maior número de crianças pudesse beneficiar de estágio em clima marítimo com a criação, por época, de mais um turno, mas no ano de 1948, em virtude de ter sido construído um pavilhão anexo ao edifício principal, que importou em 306.604$00 e que permitiu que a lotação fosse aumentada para 220 estagiários por turno, passaram os turnos a ter novamente a duração de vinte dias.
10.067 crianças pobres da Província do Ribatejo têm estagiado na Colónia Balnear desde a sua inauguração. Assim, temos:
Em 1941 – 503
1942 – 515
1943 -572
1944 – 558
1945 – 662
1946 – 644
1947 – 700
1948 – 690
1949 – 1.080
1950 – 1.004
1951 – 1.010
1952 – 1.020
1953 – 1.109A verba total despendida pela Junta de Província com a sua Colónia Balnear desde a sua criação, incluindo construção, obras de ampliação e de beneficiação, aquisição de mobiliário e de utensílios, pessoal, aquisição de roupa para uso pessoal dos estagiários, reparações, serviços clínicos e medicamentos, despesas de alimentação e outras despesas, atinge a cifra de 3.440.897$55, assim distribuída por anos:
1941 – 671.017$25
1942 – 145.030$45
1943 – 135.438$70
1944 – 128.031$50
1945 – 126.855$50
1946 – 139.046$45
1947 – 134.736$55
1948 – 430.473$05
1949 – 381.044$70
1950 – 287.323$70
1951 – 253.002$80
1952 – 317.165$10
1953 – 291.731$80Nos mesmos anos, as verbas despendidas com a alimentação dos estagiários são as seguintes:
1941 – 53.702$75
1942 – 66.530$00
1943 – 58.666$70
1944 – 68.606$45
1945 – 70.672$70
1946 – 79.525$05
1947 – 75.511$90
1948 – 116.701$65
1949 – 135.657§10
1950 – 150.443$30
1951 – 151.043$60
1952 – 154.765$10
1953 – 168.148$60Despenderam-se, assim, desde a inauguração da Colónia Balnear, 1.349.974$90 com a alimentação das crianças estagiárias. Como compensação de parte destas despesas e conforme está estabelecido no regulamento que rege a Colónia Balnear, as entidades que têm subsidiado crianças na Colónia entregaram à Junta de Província, no período indicado, a quantia de 1.572.089$80.
Os altos benefícios que as crianças colhem com a sua estadia na Colónia Balnear da Junta de Província do Ribatejo, na Nazaré, estão bem comprovados nos relatórios que no fim de cada época balnear, são apresentados pelo médico que nela presta serviço. Assim, no corrente ano, verifica-se que dos 1.109 estagiários que a frequentaram obtiveram bons e ótimos resultados 1.011, o que dá a magnífica percentagem de 91,6 %.
O acolhedor e terno tratamento que é dado às crianças, leva-as a ver com enorme tristeza a hora do regresso. Uma delas foi bem expressiva em seu sentimento ao implorar, entre lágrimas, que a deixassem estar mais tempo a viver naquele Céu.
Fontes:
- Portugal. Arquivo Distrital de Santarém. Artur Proença Duarte: Atividade Pública: Presidente da Junta da Província do Ribatejo, Documentos diversos, Frequência e despesa da Colónia Balnear da Nazaré entre 1941 e 1953, Cx. 6. [PT/ADSTR/PSS/APD/A-E/002].
- Portugal. Arquivo Distrital de Santarém. Junta da Província do Ribatejo. [PT/ADSTR/AL/JPR]. [Em linha]. [Consult. 8 jul. 2025]. Disponível na internet: https://digitarq.arquivos.pt/documentMigrated/9dc875b92f2c4047ad5210d884cb97cb
- Portugal. Arquivo Distrital de Santarém. Conselho Provincial do Ribatejo. Atas: Ata de 21 de maio de 1941. [PT/ADSTR/AL/CPR/001/0001].
Bibliografia:
- Artur Proença Duarte. In CASTILHO, J. M. Tavares – Os Deputados à Assembleia Nacional (1935-1974). Biografia e carreira parlamentar. Lisboa: Assembleia da República, 2009. [Em linha]. [Consult. 8 jul. 2025]. Disponível na internet: https://app.parlamento.pt/publicacoesonline/deputadosan_1935-1974/html/pdf/d/duarte_artur_proenca.pdf
- A Junta de Província do Ribatejo. In Correio da Estremadura. (7 jun. 1941). [Em linha]. [Consult. 8 jul. 2025]. Disponível na internet: https://arquivo.correiodoribatejo.pt/2022/05/03/correio-da-estremadura-no2614-07jun1941/
- O modelar preventório da Junta de Província. In Correio da Estremadura. (14 jun. 1941). [Em linha]. [Consult. 8 jul. 2025]. Disponível na internet: https://arquivo.correiodoribatejo.pt/2022/05/03/correio-da-estremadura-no2615-14jun1941/
- MORGADO, Maria Rosa – Eu sou o Mar. In Poetas Populares de Abrantes. Abrantes: Câmara Municipal, 1997, p. 257.