3 de Janeiro de 2025
Centenário do nascimento de Mário Soares: a mãe Elisa Nobre Baptista
1887-11-06, Igreja paroquial de Nossa Senhora da Purificação de Pernes, concelho de Santarém
Registo de batismo de Elisa, filha de José Maria Nobre, trabalhador, natural de Casével e de Maria da Piedade, de serviço doméstico, natural de Pernes, nascida a 8 de setembro de 1887.
PT/ADSTR/PRQ/PSTR14/001/0004 – Portugal, Arquivo Distrital de Santarém, Paróquia de Pernes, Registo de batismos n.º 3, Aº 37/1887
Mário Soares, de seu nome completo de Mário Alberto Nobre Lopes Soares, completaria 100 anos a 7 de dezembro de 1924.
As comemorações do seu centenário realizam-se de 7 de dezembro de 2024 até ao final de 2025 ligando-se às celebrações dos 50 anos do 25 de Abril e dos 100 anos do nascimento da sua esposa Maria Barroso.
Divulgamos hoje o assento de batismo de sua mãe, Elisa Nobre Baptista, natural de Pernes.
Uma família pouco convencional
Nasceu num segundo andar do n.º 163 da rua Gomes Freire, em Lisboa no seio de uma família muito pouco convencional. Um pai, ainda padre à data do seu nascimento, uma mãe divorciada e quatro meios-irmãos.
Era filho do pedagogo, político e ex-sacerdote João Lopes Soares (1879-1970), e de sua mulher Elisa Nobre Baptista (1887–1955), antiga proprietária duma pensão na Rua Ivens.
O pai e a mãe tinham filhos de outras relações — Rogério Lopes Soares de mãe desconhecida e Tertuliano Lopes Soares, que já tinha quase 18 anos quando ele nasceu, filho de João Lopes Soares e de Joaquina Ribeiro da Silva, e J. Nobre Baptista e Cândido Nobre Baptista, filhos de Elisa Nobre Baptista, fruto de um casamento anterior [3].
Atendendo ao facto de o pai ainda ser padre [1], e das suas ausências forçadas [2], os pais só se casam a 5 de setembro de 1934, já Mário Soares tinha quase 10 anos.
O pai era um republicano convicto tendo exercido vários cargos depois da implantação da República: governador civil da Guarda (1912-1913), de Braga (1913-1914) e, depois da revolução de 14 de maio de 1915, nomeado para o mesmo cargo em Santarém, em nome da Junta Revolucionária, sendo substituído, em 24 de maio por Manuel Ribeiro Alegre, avô materno do socialista Manuel Alegre de Melo Duarte, que exercia aí o cargo de Conservador do Registo Civil. Em 1914 foi nomeado vogal do Conselho Superior de Finanças, onde esteve até ao golpe militar de 1926. Paralelamente, entre 1916 e 1926, foi Deputado pelos círculos eleitorais de Guimarães e de Leiria. Em 1919 desempenha funções como Ministro das Colónias, no Governo do Dr. Domingos Pereira, batendo-se pela sua manutenção.
Na sequência da revolução de 28 de maio de 1926 é demitido de vogal do Conselho Superior de Finanças e afastado das aulas nos Pupilos do Exército. Os manuais de História e Geografia que tinha publicado deixaram de ser a escolha do ensino público. Tomou parte em diversas movimentações oposicionistas acabando por ser detido [2].
Em 1928, em sociedade com João de Deus Ramos, Virgílio Vicente da Silva e Mário Pamplona Ramos, fez parte do projeto pedagógico do Colégio Bairro Escolar do Estoril, no Monte Estoril que vem a abandonar em 1935 vendendo as suas quotas a Américo Limpo de Negrão Buisel.
Em 1936, o casal João Lopes Soares e Elisa Nobre Baptista fundam o Colégio Moderno (inicialmente Pensionato Moderno) o que dá início a um período de alguma estabilidade financeira da família que até aí tinha lutado com algumas dificuldades. Com o pai João Soares várias vezes preso, o dinheiro era escasso. Mário Soares chega a viver um ano nas Caldas da Rainha, em casa da família Maldonado Freitas.
O colégio era para o sexo masculino, com internato e semi-internato. Ensinava a instrução primária, o curso liceal e o complementar dos liceus. Tinha também uma secção infantil, aberta aos dois sexos.
A partir de 1936, a família instala-se no Colégio, que continua hoje em funcionamento no Campo Grande, na Estrada de Malpique, atual rua João Soares.
O pai geria a educação, a mãe o internato.
A mãe
Elisa Nobre Baptista nasceu na vila de Pernes, concelho de Santarém, no dia 8 de setembro de 1887. Era filha de José Maria Nobre, trabalhador, natural de Casével e de Maria da Piedade, doméstica, natural de Pernes.
Soares sempre recordou, em todas as entrevistas, uma infância muito feliz, com uma relação profunda com a mãe – que o mimou bastante e compensava as ausências do pai. Embora o pai João Soares tenha sido o centro da família (morreu aos 91 anos, em 1970, quando Soares estava em Itália a escrever o Portugal Amordaçado), a mãe Elisa marcou profundamente o filho. [4]
Podia ter um feitio difícil por ser demasiado franca e por vezes desabrida, mas era com ela que Soares mais se identificava. A Maria João Avilez (Soares, Ditadura e Revolução) confessou que:
«A minha mãe esteve sempre muito presente na minha vida, foi um grande e terno apoio para mim, quase único, durante parte da minha infância, quando o meu pai estava ausente, por estar preso ou na clandestinidade. […] [5]
Filha de camponeses, tinha formação reduzida, mas dotada de um grande sentido prático soube gerir bem o negócio de família.
Faleceu na casa do Campo Grande, com apenas 67 anos.
Bibliografia
HENRIQUES, João Aníbal – O Colégio João de Deus e o Bairro Escolar do Monte Estoril. Portugal (25 ago. 2009) [Consult. 03-01-2025] Disponível em WWW:<URL: https://portugalidade.blogspot.com/2009/08/o-colegio-joao-de-deus-e-o-bairro.html>
JOÃO LOPES SOARES. Wikipédia (20 outubro 2024). [Consult. 03-01-2025] Disponível em WWW:<URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Lopes_Soares>
MARIO SOARES. Wikipédia (18 dez. 2024). [Consult. 03-01-2025] Disponível em WWW:<URL:https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Soares>
NOS 142 ANOS DO NASCIMENTO DE JOÃO LOPES SOARES. Fundação Mário Soares e Maria Barroso (2020) [Consult. 17-12-2024] Disponível em WWW:<URL: https://fmsoar4es barroso.pt/fundacao/noticias/nos-142-anos-do-nascimento-de-joao-lopes-soares>
OS PRIMEIROS ANOS DO MIÚDO MIMADO QUE NASCEU NUMA FAMÍLIA TUDO MENOS CONVENCIONAL. Jornal i (7 de janeiro de 2017). [Consult. 17-12-2024] Disponível em WWW:<URL:https://ionline.sapo.pt/2017/01/07/os-primeiros-anos-do-miudo-mimado-que-nasceu-numa-familia-tudo-menos-convencional/>
PEIXOTO, Margarida – A vida de Soares, parte I. O mau aluno que liderava o colégio. Observador (19 out. 2016) [Consult. 02-01-2025] Disponível em WWW:<URL:https://observador.pt/especiais/o-mau-aluno-que-liderava-o-colegio/>
Fontes
PT/ADSTR/PRQ/PSTR14/001/0004 – Portugal, Arquivo Distrital de Santarém, Paróquia de Pernes, Registo de batismos n.º 3, Aº 37/1887 (batismo de Elisa)
PT/TT/RC/CRCLSB7/002/0022 – Portugal, Torre do Tombo, 7ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, Registos de Casamento n.º 20, Vol. II de 1934, Aº 336/1934 (casamento de João Lopes Soares e Elisa Nobre Baptista)
PT/TT/RC/CRCLSB3/003/00177 – Portugal, Torre do Tombo, 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, Registo de óbitos n.º 177, Aº 256/1955 (óbito de Elisa Nobre Baptista)
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1 – João Lopes Soares foi ordenado sacerdote em 1900. Em 1923, alegando ter recebido as ordens eclesiásticas contrariamente à sua vontade, apresenta junto da Santa Sé, uma ação canónica, pedindo a declaração de nulidade da sua ordenação de presbítero. A decisão será proferida pelo Papa Pio XI, em agosto de 1927, deixando, então, oficialmente de ser padre.
2 – Esteve preso nos Açores, exilado em Espanha e viveu clandestinamente.
3 – Elisa Nobre Baptista foi casada com Salvador da Costa de quem se divorciou em 1920.
4 – Cf. Os primeiros anos do miúdo mimado…
5 – Idem.