1 de Dezembro de 2025
A GUERRA DA RESTAURAÇÃO: O ASSASSÍNIO D’O COSTA DE LISBOA (1642)
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1642, outubro, 18 – Atalaia [Vila Nova da Barquinha]
Assento de óbito de indivíduo conhecido por “O Costa”, de Lisboa, pagem de um [sargento ou capitão] português, morto com um tiro de pistola por outro pagem de um [sargento ou capitão] francês, quando iam a caminho da praça de Almeida, na estrada real, no local de Pernancha.
PT/ADSTR/PRQ/PVNB01/003/0001 – Portugal, Arquivo Distrital de Santarém, Paróquia de Atalaia [Vila Nova da Barquinha]: Registo de Óbitos, Liv. 1 (1548-1742), f. 86-86v.
O Costa de lisboa
Aos dezoito dias do mês de outubro | de mil e seiscentos e corenta e | dous anos passando por esta villa | datalaja […] gentos ou | capitais que se dizia irem para as fronteiras de almeida hum | destes era franseis e o outro portu- | gues o pagem do franses com hũa | pistola matou ao pagem do portugues para cimma desta villa | aonde se chama pernancha | no meio da estrada Real o morto se chama O Costa | este está enterrado dentro // na igreja desta villa datalaja junto | ao arquas de São Joam dia | e era ut supra a) Simão Rodriguez cura
A GUERRA DA RESTAURAÇÃO: O ASSASSÍNIO D’O COSTA, DE LISBOA A CAMINHO DE ALMEIDA (1642)
O principal problema na consolidação do poder alcançado com a restauração da independência de Portugal, em 1640, era de natureza militar. Temendo os ataques de Espanha havia que preparar exércitos, praças e fortalezas, adquirir armamento e, em geral, dispor de meios para custear o esforço de guerra.
Espanha estava envolvida na Guerra dos Trinta Anos, que acabou em 1648, e apostou, posteriormente, em intervenções armadas noutros pontos de maior importância estratégica para os seus interesses que Portugal.
A Guerra da Independência de Portugal começou, pois, com campanhas esporádicas e inconsequentes nas fronteiras do Minho, Beira e Alentejo. Refere o major general Rui Moura que, na década de 60:
“No Exército Português da época grassava uma falta de disciplina e de organização, uma falta de liderança e de treino, uma falta de efetivos e de armamento, uma falta de brio e de decoro, isto apesar do país se encontrar em conflito havia duas décadas.”
O conflito trouxe a Portugal muitos militares estrangeiros, quer contratados pela Coroa, quer por iniciativas particulares que ofereciam os seus préstimos à causa portuguesa.
Segundo Penim de Freitas, o afluxo desses militares estrangeiros, sobretudo franceses, holandeses e ingleses, ocorreu em dois momentos principais: agosto e setembro de 1641 e os primeiros anos da década de 60.
O convívio entre locais e estrangeiros foi, desde logo, impactante. As diferenças de língua, hábitos, costumes e credos religiosos, agudizadas por comportamentos abusivos, tornavam difícil a convivência dando aso a confrontos frequentemente violentos e, muitas vezes, letais.
Os testemunhos mais conhecidos deste tipo de confrontos são, sobretudo, de ocorrências na década de 60, no Alentejo, região onde sucederam as maiores e mais determinantes batalhas da Guerra da Restauração e, por isso, com a presença de maior número desses contingentes em relação ao momento anterior.
Os franceses eram alvo de mais queixas. Segundo o mesmo autor, muitos daqueles, chegados em 1663, tinham sido recrutados à força, por ordem do visconde de Turenne, em resposta ao pedido do Conde de Schömberg, de locais mal-afamados de Paris. Eram, em boa parte, pequenos criminosos e delinquentes.
O documento que destacamos enquadra-se nos primeiros anos da independência e o palco dos acontecimentos é a estrada real, junto a Atalaia, na direção da praça de Almeida.
A morte d’O Costa ocorreu por confronto entre ajudantes de graduados português e francês, de quem se desconhece os nomes, e não entre locais, e envolveu arma de fogo. Desconhece-se o que motivou o crime.
Fica como curiosidade!
Fontes:
- PT/ADSTR/PRQ/PVNB01/003/0001 – Arquivo Distrital de Santarém. Paróquia de Atalaia [Vila Nova da Barquinha]: Registos de Óbitos. Disponível em https://digitarq.adstr.arquivos.pt/viewer?id=1006666. [Consult. 11-11-2025].
Bibliografia:
- FREITAS, Jorge Penim de – Conflitos entre civis e militares estrangeiros: um exemplo de 1663 [em linha]. 27 de fevereiro de 2024. Disponível em WWW. <URL: https://guerradarestauracao.wordpress.com/2024/02/> [acedido em novembro de 2025].
- MOURA, Rui – Presença militar estrangeira no Exército Português, do século XVII a Napoleão [em linha]. Revista Militar. Disponível em WWW.<URL: https://www.revistamilitar.pt/artigo/1627 [Consult. 04-11-2025].
- COSTA, João Paulo Oliveira e – A Restauração da Independência: 28 anos decisivos na História Nacional [em linha]. 18 janeiro 2024. Disponível em WWW. URL:https://www.nationalgeographic.pt/historia/restauracao-independencia-28-anos-decisivos-historia_4591 [Consult. 26-11-2024].
- Guerra da Restauração [em linha]. Infopédia. Porto Editora. Disponível em WWW. <URL
:https://www.infopedia.pt/artigos/$guerra-da-restauracao> [Consult. 26-11-2024].


