2 de Novembro de 2023
INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 9. A Fábrica de Papel do Casal do Feijão em Zibreira, Torres Novas
1844-06-06, Torres Novas
Escritura de sociedade que fazem Manuel da Silva Formiga e mulher, Isabel dos Santos, moradores nos Casais Martanes e Lourenço Gambino e mulher, Maria Gambina, moradores no Moinho do Casal do Feijão para estabelecimento de uma fábrica de papel.
PT/ADSTR/NOT/01CNTNV/001/0354 – Arquivo Distrital de Santarém, Cartório Notarial de Torres Novas – 1.º Ofício, tab. Venâncio Faustino Coelho de Moura, liv.9 (n.º ord.837), f.22 (parte) a 24 (parte)
A dinâmica empresarial nos séc. XVIII e XIX em Portugal (abertura, falência, reabertura de fábricas), obrigava à contratação e circulação de mão de obra especializada, muita dela de origem estrangeira. É também esse o caso dos mestres papeleiros, entre os diversos centros de indústria de papel em Portugal.
Se alguns desses estrangeiros nos parecem casos isolados outros vemos que possuem a mesma origem e outros ainda que, para além da origem, partilham laços familiares. É o caso de algumas famílias genovesas como os Testa, Gambino e os Manheta.
O primeiro indivíduo da família Gambino documentado foi José Gambino, mestre de uma fábrica nova de papel que havia sido fundada em 1706, em Braga por uma sociedade entre o, também ele, genovês, José Ottoni, Marcos Malheiro Pereira e os reverendos António de Fraga Botelho e Cristo Bacelar1.
Na primeira metade do séc. XIX encontramos membros das ditas famílias quer em Tomar, Pedreira quer em Torres Novas, Zibreira. Na 2.ª metade já os encontramos também em Rio Alcaide, Porto de Mós e em Alcobaça.
Em agosto de 1825 morrem em Pedreira Ana Maria Manheta e seu marido, Nicolau Manheta, mestre da fábrica de papel de Silvestre Schiappa Pietra2, genoveses.
No mesmo ano Lourenço Gambino, casado com uma filha de Nicolau Manheta, enquanto mestre da fábrica de papel, assina uma escritura de contrato de ajuste e obrigação entre Francisco Lopes Marques, mestre de obras, de Torres Novas e Bento Ardisson, de Lisboa relativa às obras de construção de uma fábrica de papel junto à nascente do rio Almonda, na localidade de Zibreira, Torres Novas.
Provavelmente para substituir o falecido Nicolau Manheta foi contratado Bartolomeu Testa, natural de S. Tiago de Vultre, Génova, filho de João Germinhão e de Ana Maria Gambina Testa, casado com Antónia Testa, natural de Stº Ambrósio de Génova, filha de Estêvão Gambino e de Maria Brazona Gambino cuja presença no Prado (Pedreira, Tomar) atestamos desde 1832, ano em que batiza seu filho Manuel.
Na segunda metade do séc.XIX vêmo-los criarem as suas próprias fábricas. É o caso de Nicolau Testa, filho de Bartolomeu Testa e Antónia Testa que na década de 50 cria a fábrica do Sobreirinho, Tomar e também o de José Lázaro Gambino que em 1865 cria uma fábrica em Alcobaça que em 1883 trespassa a seu filho António Gambino3 e o de Francisco Gambino, que em 1898 obtém licença para erigir uma nova fábrica em Alcobaça.
É também o caso de Lourenço Gambino, como se vê pelo documento que destacamos, que se associa em 1844 a Manuel da Silva Formiga para estabelecerem uma nova fábrica de papel junto à nascente do rio Almonda, no Casal do Feijão.
Referências:
FALCÃO, Armando Sacadura – Apontamento genealógicos: II A Família Schiappa Pietra. Raízes & Memórias. Lisboa: APG. n.º 8, outubro 1992. pp.75-106
LOPES, João Carlos – O Moinho da Fonte e a indústria do papel em Torres Novas [A Renova]. Torres Novas, Âmago da Questão, 2022. 192 pp.
PORTELA, Miguel – Laços familiares de mestres papeleiros genoveses no Portugal oitocentista: Estudo genealógico das famílias Gambino e Testa. Actas del XII Congreso Internacional Historia del Papel en la Península Ibérica, Vol. 2, Tomo 2, 2017. pp. 97-123
PORTUGAL, ARQUIVO DISTRITAL DE SANTARÉM – Indústria e industriais– 2. Fábrica de papel de Domingos Ardisson e C.ª (Torres Novas). Santarém, 29 de Junho de 2022. [Consult. 30-10-2023] Disponível em WWW:<URL:https://adstr.dglab.gov.pt/2022/06/29/industrias-e-industriais-2-fabrica-de-papel-de-domingos-ardisson-e-c-a-torres-novas/>
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1Cf. PORTELA, Miguel – Laços familiares de mestres papeleiros genoveses no Portugal oitocentista: Estudo genealógico das famílias Gambino e Testa. Actas del XII Congreso Internacional Historia del Papel en la Península Ibérica, Vol. 2, Tomo 2, 2017 (Tomo II), p.99-102
2A família Schiappa Pietra era também ela oriunda de Génova. Cf. FALCÃO, Armando Sacadura – Apontamento genealógicos: II A Família Schiappa Pietra. Raízes & Memórias . Lisboa: APG, n.º 8, outubro 1992. p.75
3É provável que José Lázaro tenha trabalhado na fábrica do Prado em Tomar uma vez que casa em Pedreira, Tomar com Carolina Rosa, em 1848.