INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 8. A Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Cª, Lda., 1960 | Arquivo Distrital de Santarém
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3 de Julho de 2023

INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 8. A Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Cª, Lda., 1960

1960 março 17, Santarém

Escritura de aumento de capital e alteração parcial do pacto social da firma Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada que adota a denominação “Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada”.

PT/ADSTR/NOT/01CNSTR/001/0707 – Secretaria Notarial de Santarém, notário Miguel Coelho dos Reis, liv. 185, fl.23v. a 29

PT/ADSTR/NOT/01CNSTR/001/0707 f.23v.

PT/ADSTR/NOT/01CNSTR/001/0707 f.24

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“A indústria de bebidas gaseificadas tinha revelado durante os últimos trinta anos do século XIX uma tendência crescente. Não obstante, foi apenas durante a década de 20 do século XX que as unidades fabris se começaram a multiplicar por todo o país, saindo progressivamente da esfera quase exclusiva de Lisboa e do Porto.” (BORGES, p.60)

“Estas pequenas unidades que começavam a proliferar pelo país apareciam sobretudo ligadas a outros estabelecimentos comerciais. Os seus proprietários eram muitas vezes merceeiros ou comerciantes grossistas que, para além desta sua atividade, criavam uma marca própria de refrigerantes. A justificação pode estar no facto do consumo destas bebidas se manter sazonal, vendendo-se quase exclusivamente nos meses de verão, sendo então a sua produção encarada como um negócio complementar.

Na sua grande maioria, estas fábricas correspondiam a um negócio familiar, empregando pouca gente e com uma escala reduzida, tanto física como de distribuição. Assim, a comercialização de refrigerantes restringia-se, de forma genérica, aos concelhos e aldeias limítrofes à fábrica. A implantação destas unidades era também frequente em zonas com poços artificiais, nascentes termais ou cursos de água pois aproveitavam a sua captação direta para o fabrico das bebidas.”(BORGES, p.61)

Ultrapassados os efeitos nefastos da Grande Depressão, o condicionamento industrial imposto pelo Decreto n.º19:354, de 3 de janeiro de 1931 e os constrangimento causados pela Segunda Guerra Mundial, nomeadamente a carestia da matérias-primas e outros produtos, segue-se, nas décadas de 40 e 50, uma segunda vaga de criação de fábricas de refrigerantes.

A década de 60 correspondeu a uma fase de modernização e concentração das fábricas de refrigerantes para o que teve a maior importância a promulgação do Decreto-Lei n.º 42:159.

Esta reforma, integrada no programa do segundo plano de fomento (1959-1964), visava tornar as empresas mais competitivas e preparadas para enfrentar a concorrência dos mercados externos consequência da gradual liberalização económica, nomeadamente da participação de Portugal na EFTA (European Free Trade Association).

O preâmbulo do Decreto-Lei n.º 42:159, promulgado a 25 de fevereiro de 1959, pelo Ministério da Economia, que fixava as características a que devia obedecer o fabrico dos refrigerantes engarrafados, caracterizava assim a situação da indústria de refrigerantes de então:

“A industria de refrigerantes deve distribuir-se actualmente, por mais de quatrocentos e cinquenta estabelecimentos, […]. Trata-se em regra, de pequenas e médias unidades industriais, deficientemente instaladas, utilizando água e outras matérias primas de salubridade duvidosa e com uma linha de produção higienicamente condenável.”

Regulamentado pela Portaria n.º17:264, de 11 de julho de 1959, concedia um prazo de quatro anos para as unidades procederem às adaptações e melhorias agora impostas.

Se, por um lado, existiu um certo número de fábricas que, perante as novas condições, se viram obrigadas a encerrar portas, e algumas procederam a campanhas de modernização na sua estrutura produtiva, muitas acabaram por se associar concentrando-se em maiores e mais modernas unidades fabris.

A gradual concentração destas empresas permitiu o aumento do seu capital económico e do campo de influência, tanto ao nível da capacidade produtiva, como da distribuição geográfica dos seus produtos. Exemplo disso é o processo de constituição da Rical, em Santarém.

A 17 de março de 19601, os sócios da firma Rodrigues, Irmão & Cª, Lda., que tinha sido constituída por escritura de 15 de fevereiro de 19432, “tendo resolvido imprimir mais desenvolvimento à sua atividade”, resolveram aumentar o seu capital e alterar o seu pacto social ao admitir, como novos sócios, vários industriais de outras fábricas de refrigerantes da região.

A 28 de dezembro de 1961 foram admitidos novos sócios entre os quais, industriais de Alcobaça e Caldas da Rainha. A firma passa a designar-se “Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Cª, Lda.”3. Os refrigerantes eram produzidos nas instalações da antiga fábrica Frutidor, da firma Rodrigues, Irmão & Cª, Lda., no centro da cidade de Santarém.

Em 1963 a sociedade aumentou novamente o seu capital social e o número de sócios, alterando o nome para “Rical – Empresa Produtora de Refrigerantes e Águas, Lda.”4 . Estabelecem-se também as redes de distribuição entre os sócios. A menção “Rodrigues, Irmão & Cª, Lda.”, embora tenha desaparecido do nome da empresa, permaneceu por mais algum tempo nas garrafas de refrigerantes, até se esgotarem as centenas de milhares de garrafas pirogravadas existentes em stock.

Em 1972, a sociedade constrói uma nova fábrica, situada a pouca distância da mais antiga, na Quinta dos Pinheiros, Portela das Padeiras – Santarém. Destacam-se, na altura, os produtos: Rical Pêssego, Rical Maçã, Rical Pera, Rical Tangerina, Rical Gasosa e Rical Cola. A fábrica é ampliada em 1979.

Em 1980, foi constituída uma parceria de negócio com a empresa internacional Rudolf Wild, detentora dos produtos “Caprisone”, o que potenciou a criação de mais postos de trabalho.

“A concorrência de mercado tornava-se cada vez maior e agravou-se sobretudo com a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia em 1986. Os grandes grupos económicos tentavam monopolizar o mercado através da compra de empresas mais pequenas e aguentar assim o impacto das multinacionais que se iam progressivamente fixando no nosso país. Atente-se no caso da compra da Rical pela Unicer (antiga CUFP) em 1987 e cujo plano já vinha sendo pensado desde 1985. O objetivo passava por corrigir as lacunas de produção no sector dos refrigerantes por parte da Unicer mantendo, no entanto, a baixo custo os produtos Rical.” (Borges, 105)

Após a compra da Rical, a Unicer fez desaparecer dos rótulos a denominação de origem dos produtos produzidos na fábrica de Santarém.

No mercado dos refrigerantes, em 1995, foi apresentada a nova marca Frutis e relançada a gama de produtos Rical.

A Unicer, no período de 2000-2015, seguiu uma linha de expansão, internacionalização e competitividade ancorada em duas estratégias distintas de liderança, correspondentes às administrações lideradas pelo Eng. Manuel Ferreira de Oliveira, entre 2000 e 2006, e pelo Dr. António Pires de Lima, entre 2006 e 2013 e continuada até 2015 pelo Dr. João Abecasis. Foi precisamente na segunda fase que foram encerrados as unidades fabris de Loulé e Santarém “[…] concentrando-se toda a produção em Leça do Balio, onde se iniciou a construção de um novo complexo industrial, em 2012, (com um novo centro de produção com capacidade para 450 milhões de litros/ano, nova sede-administrativa e um armazém logístico criado de raiz, totalmente automatizado), projectando o futuro com elevados padrões de qualidade e eficiência.” (PEREIRA, p.28)

Em janeiro de 2015 a Unicer encerrou definitivamente a fábrica de Santarém. O fabrico das marcas Frisumo e Frutea foram transferidos para a espanhola Font Salem, que em Santarém produzia a cerveja Cintra.

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1Escritura de aumento de capital e alteração parcial do pacto social da firma Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada, 17-03-1960 – Secretaria Notarial de Santarém, notário Miguel Coelho dos Reis, liv. 185, fl.23v. e segts.

2Escritura de sociedade por quotas com a firma Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada, com sede em Santarém, com o objeto de fabrico de refrigerantes, 15-02-1943 – Secretaria Notarial de Santarém, notário José Valente de Araújo, liv.259, fl.76v. e segts.

3Escritura de cessões e divisões de quotas e alteração parcial de pacto social da firma Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada, 28-12-1961 – Segundo Cartório Notarial de Santarém, liv. 6-6, fl.1 e segts.

4Escritura de aumento de capital e alteração parcial do pacto social da Rical – Empresa Produtora de Refrigerantes e Águas, 23-12-1963 – Segundo Cartório Notarial de Santarém, liv. D-13, fl.1 e segts.

Referências:

BORGES, João Luís de Castro Martins – Garrafas de refrigerante: Formas, imagens e a sua circulação na indústria portuguesa entre 1870 e 1980 . [Em linha] Porto: FLUL, nov. 2020. 247 f. Dissertação de mestrado [Consult. 24 mai. 2023]. Disponível em <URL:https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/132498/2/446523.pdf>

PEREIRA, Gaspar Martins – Unicer, 125 Anos a Construir o Futuro. [Em linha] Unitrade, n.º 14, abril 2015.  [Consult. 24 mai. 2023]. Disponível em <URL:https://autentico.superbockgroup.com/resources/medias/content/historia-da-unicer/content/Uni_Historia.pdf>

REDE REGIONAL – Unicer Encerra Fábrica da Rical em Santarém [Em linha] [Consult. 24 mai. 2023]. Disponível em <URL:https://www.rederegional.com/index.php/economia/13764-unicer-encerra-fabrica-da-rical-em-santarem>

Legislação:

DECRETO-LEI nº 42159. DR. I Série. 43 (1959-02-25) 218-220,

PORTARIA n.º17264. DR. I Série. 154, (1959-07-11) 802-804

Fontes:

PT/ADSTR/NOT/08CNSTR/001/0259 – Escritura de sociedade por quotas com a firma Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada, com sede em Santarém, com o objeto de fabrico de refrigerantes, 15-02-1943, Secretaria Notarial de Santarém, notário José Valente de Araújo, liv.259, fl.76v. e segts.

PT/ADSTR/NOT/01CNSTR/001/0707 – Escritura de aumento de capital e alteração parcial do pacto social da firma Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada que adota a denominação de “Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada”, 17-03-1960 – Secretaria Notarial de Santarém, notário Miguel Coelho dos Reis, liv. 185, fl.23v. e segts.

PT/ADSTR/NOT/08CNSTR/001/0380 – Escritura de cessões e divisões de quotas e alteração parcial de pacto social da firma Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada, 28-12-1961 – Segundo Cartório Notarial de Santarém, liv. C-6, fl.1 e segts.

PT/ADSTR/NOT/08CNSTR/001/0408 – Escritura de aumento de capital e alteração parcial do pacto social da Rical – Empresa Produtora de Sumos e Refrigerantes Rodrigues, Irmão & Companhia Limitada que passa a designar-se Rical – Empresa Produtora de Refrigerantes e Águas, Limitada, 23-12-1963 – Segundo Cartório Notarial de Santarém, liv. D-13, fl.1 e segts.

Esta notícia foi publicada em 3 de Julho de 2023 e foi arquivada em: Documento em Destaque.