Inauguração do cinema sonoro em Santarém – Teatro Sá da Bandeira, 7 fevereiro 1931 | Arquivo Distrital de Santarém
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2 de Fevereiro de 2023

Inauguração do cinema sonoro em Santarém – Teatro Sá da Bandeira, 7 fevereiro 1931

 

PT/ACD/ADSTR/GCSTR/H/B- Arquivo Distrital de Santarém, Governo Civil de Santarém, Programas visados,  1931-1932, n.º22

A Prócine, Lda, empresa que explorava o Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, em agosto de 1930, depois de uma vistoria dos bombeiros que proibia a venda de bilhetes para os balcões e camarotes por falta de segurança, decidiu encerrar o teatro para obras de modernização e ampliação.

O teatro, vocacionado sobretudo para o cinema, voltou a abrir portas a 31 de janeiro de 1931 tornando-se a primeira sala de espetáculos escalabitana a passar filmes sonoros. A inauguração do cinema sonoro fez-se com a exibição do filme americano “O cantor louco” (The singing fool, 1928) protagonizado por Al Jolson, de onde se destacava a famosa canção Bonny Boy (Sonny Boy) anunciada para quinta-feira dia 5 de fevereiro, adiada para sábado, dia 7 de fevereiro.

Com a afirmação do republicanismo português, ganhou raízes a ideia de que o cinema, tal como o teatro, deveria servir a educação do cidadão, pois com ele tinha oportunidade de obter conhecimento e de reflectir sobre os assuntos tratados pelos filmes. O cinema era olhado com relevância pelo seu carácter educativo e não só recreativo. (LB, p.2)

Era por isso necessário que os preços fossem acessíveis. Por essa razão a empresa fez constar no programa que hoje divulgamos o seguinte aviso:

AVISO AO PUBLICO

A empreza do Sá da Bandeira, querendo facilitar ao publico a assistencia a este SENSACIONAL ESPECTACULO, resolveu fazer, unicamente, um pequeno aumento nos preços dos bilhetes para o cinema mudo, sendo assim, SANTAREM, a terra do pais que admira CINEMA SONORO POR PREÇO BARATO.

A propósito comentava o Notícias do Ribatejo a 10-01-1932, citado por TLM, p.91:

“No momento que a crise é tão grande, a digna empresa deste teatro usou de um gesto verdadeiramente digno de atenção do povo scalabitano baixando os preços, de maneira que os pobres que também são gente, podem de ora avante, passar umas noites em agradável e instrutiva distracção, por um preço relativamente módico. E creio que isto representa mais que um benefício pecuniário. Porque gastariam na taberna mais do que ali pagam por uma entrada. Além disso, a mesma empresa, procurará trazer filmes úteis e instrutíveis como tem feito ultimamente. É necessário instruir e educar o povo, que não podendo frequentar os teatros caros, possa ter o seu sempre aberto. Nem tão pouco há direito que assim não seja, numa cidade como Santarém. De resto, haja fitas boas e nada mais é preciso. O povo será justo e saberá corresponder ao sacrifício que representa, para uma empresa manter assim, um teatro – cine, sempre aberto…”

Para atrair o público e contribuir para a “instrução popular” o programa incluía com frequência o argumento do filme

A exibição do filme de cartaz era normalmente complementada por documentários, notícias, momentos musicais ou de variedades e ainda desenhos animados. Na sessão de 5 de fevereiro de 1931, foi também exibido o documentário “Ericeira”.

Bibliografia

MOREIRA, Maria Teresa do Rosário Lopes da Cruz – “Todos têm direito à Cultura”: A dinâmica cultural da cidade de Santarém (1930-1959). UNL/FCSH, 2013. Tese de doutoramento em História

BARBOSA, Luísa Teixeira – A formação do gosto pelo cinema em Santarém, 1895-1959. PDF [consult. 01-02-2023] disponível em WWW:<URL:https://www.circuloculturalscalabitano.pt>

Esta notícia foi publicada em 2 de Fevereiro de 2023 e foi arquivada em: Documento em Destaque.