INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 6. O inventário de José Schiapa Teriaga, 1935 | Arquivo Distrital de Santarém
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2 de Dezembro de 2022

INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 6. O inventário de José Schiapa Teriaga, 1935

1935

Inventário orfanológico por óbito de José Schiapa Teriaga em que foi inventariante a viúva, Angelina Ramos Teriaga, moradores em Pernes.

Data do óbito: 18 de abril de 1935, Pernes

Valor do inventário: 177.172$00

Herdeiros: a viúva, e filhos: Maria Sofia Ramos Schiapa Teriaga, 19 anos, José Carlos Ramos Schiapa Teriaga, 11 anos e Augusto Carlos Ramos Schiapa Teriaga, 7 anos.

Apenso: autos cíveis de petição para venda de bens em que é requerente Angelina Ramos Teriaga em que estão em causa um conjunto de prédios urbanos que formam um agregado industrial: fábrica de pás, moinhos de fazer farinha, lagar de azeite, geradora elétrica e oficina de torneiro de madeiras (artigos 13 a 20 da descrição de bens), 1943.

PT/ADSTR/JUD/TJSTR/A/001/01589 – Portugal, Arquivo Distrital de Santarém, Tribunal Judicial da Comarca de Santarém, Inventários obrigatórios, mç.61, n.º10 (proc.º424/1935)

PT/ADSTR/JUD/TJSTR/A/001/01589_f1

PT/ADSTR/JUD/TJSTR/A/001/01589_f46v

PT/ADSTR/JUD/TJSTR/A/001/01589_f47

 

A vila de  Pernes, beneficiada pelos rios Alviela e Centeio, águas que os árabes souberam conduzir e condicionar, teve como principal atividade, durante vários séculos, a par da agricultura,  a produção de farinha.

No séc. XVIII, nos alvores do processo de industrialização do alto Ribatejo (Tomar, Torres Novas), instalou-se em Pernes, na Quinta de S. Silvestre, pela mão do genovês Pedro Schiapa Pietra, mestre de serralharia, a Real Fábrica de Serralharia, com Alvará de 10 de junho de 1772.

Associada à indústria da serralharia, porque eram necessários cabos para aplicar nas ferramentas, instrumentos agrícolas e artigos diversos que produzia, surge a dos torneados de madeira que a pouco e pouco se tornou independente afirmando-se no séc.XX com produção mais diversificada e alargamento dos mercados.

O Boletim da Junta da Província do Ribatejo (1937-40), p.540 refere que existiam na Ribeira de Pernes 18 moinhos ou azenhas, 5 moagens e na freguesia 15 lagares de azeite, 5 fábricas de pás de aço e verrumas e 10 oficinas de torneiros.

José Schiapa Teriaga, nasceu em Pernes no dia 7 de dezembro de 1893, filho de Carlos Lopes da Costa Teriaga Júnior e de sua esposa Maria Sofia Schiapa Teriaga. Casou em Santarém, no dia 15 de novembro de 1914, com Angelina Ramos, natural de Pernes, filha de Manuel Jacinto dos Ramos e de Maria Genovena dos Ramos,  de quem teve 3 filhos, e faleceu no dia 18 de abril de 1935.

O seu pai, Carlos Lopes da Costa Teriaga Júnior, nasceu em Leiria, a 12 de novembro de 1858, filho de Carlos Lopes da Costa Teriaga e e de Maria do Carmo Lopes. Descendia no entanto de famílias de Pernes. Casou em Lisboa a 23 de janeiro de 1886 com Maria Sofia Schiapa, filha de Bruno António Schiapa Pietra e bisneta de Pedro Schiapa Pietra e faleceu em Pernes a 19 de setembro de 1929.

Carlos Teriaga, foi lojista, proprietário agrícola, industrial (moagem, azeite, torneados, serralharia e energia elétrica) tudo isso conjugado com uma intensa atividade cívica tendo deixado um marca indelével como impulsionador do progresso local.

Entre os vários cargos que exerceu foi juiz da paz de Pernes, entre 1895 a 1907, e membro da comissão paroquial de beneficência de Pernes, em 1905.

Foi membro fundador do Sindicato Agrícola de Pernes (1908) e sócio fundador da Caixa de Crédito Agrícola de Pernes (1911).

Como industrial pugnou pela adoção de medidas protecionista para a indústria da serralharia, em 1902 como já o tinha feito António Bruno Schiapa Pietra, em 1882.

Foi ainda o responsável pela instalação de uma central hidroelétrica que começou a funcionar em dezembro de 1913, reforçada com a instalação de uma central termoelétrica a carvão para produção de energia nos meses de Verão. Pernes foi a terceira localidade do distrito, a única que não era sede de concelho, a ter energia elétrica (Tomar, 1901 e Abrantes, 1909)

José Schiapa Teriaga foi o único filho que lhe sobreviveu, mas pouco tempo mais, faleceu com 42 anos de idade, deixando órfãos 3 filhos.

Dos bens que deixou, herança de seus pais, constava um conjunto de prédios urbanos que formavam um agregado industrial: fábrica de pás e verrumas, moinhos de fazer farinha, lagar de azeite, geradora elétrica, serração e oficina de torneiro de madeiras, situados em Pernes, compreendendo máquinas, ferramentas, móveis e mais utensílios, rede de distribuição elétrica e os respetivos direitos e alvarás.

Em 1936 a viúva, na qualidade de representante e administradora dos bens dos seus dois filhos menores, associa-se a António Mendes, médico-cirurgião, seu genro, e a José Rosa Gomes, industrial, todos de Pernes para constituição de uma sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada com o nome de Empresa Eléctrica de Pernes, Lda. que tinha por objeto a indústria de energia elétrica, lagar de azeite, fábrica de pás de aço e torneiro, com o capital social de 45.000$00. (Cartório Notarial de Santarém, notário Francisco Martins, liv. n.º219, f.43v e segts.) A sociedade foi dissolvida 2 anos depois.

Em 1944, Angelina Ramos Teriaga, como administradora dos bens de seu filho Augusto, e seu filho José Carlos Ramos Schiapa Teriaga vendem o dito agregado industrial à Sociedade Industrial do Alviela, Lda., constituída a 31 de maio de 1943, representada pelo sócio gerente Mário Henriques Mendonça (Cartório Notarial de Pernes, notário Miguel Coelho dos Reis, liv. n.º455, f.99v e segts.). Esta sociedade explorou a central elétrica até 1961, data em que Pernes passa a estar ligada à rede elétrica nacional.

Bibliografia

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VIOLANTE, Raúl – Pernes no Tempo: Factos históricos da nossa terra, 1.º vol. Chamusca: Zaina Editores, 2021

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