30 de Setembro de 2022

INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 5. O inventário de António Francisco Galveias, antigo fabricante de curtumes em Alcanena

1849, Juízo de Direito da Comarca de Torres Novas

Autos cíveis de inventário orfanológico por óbito de António Francisco Galveias, casado com Ana Maria do Carmo, do lugar de Alcanena

PT/ADSTR/JUD/TJTNV/A/001/00035 – Portugal, Arquivo Distrital de Santarém, Tribunal Judicial da Comarca de Torres Novas, Inventários Obrigatórios, Alcanena, n.º ord.2, mç.2, n.º42

PT/ADSTR/JUD/TJTNV/A/001/00035_f1

PT/ADSTR/JUD/TJTNV/A/001/00035_f28

PT/ADSTR/JUD/TJTNV/A/001/00035_f56

Uma postura da Câmara de Torres Novas de 30 de maio de 1730, sustenta a ideia de que os curtumes já eram uma prática de longa data na área hoje compreendida no concelho de Alcanena.

Nela se proibia e estipulavam coimas a quem lavasse peles e estendesse couros a enxugar “da Ponte de Pedra do lugar de Alcanena para sima athe ao Rabassal ou do Regato da Fonte the aos Algares”, ” por ser tudo mui nocivo e prejudicial a saude”.

Mais tarde, durante o período de grande dinamismo industrial de finais de setecentos foram várias as provisões de privilégios e isenções concedidas a fábricas de curtumes nesta mesma área. A primeira terá sido concedida a Tristão Nunes Infante em 1784, para fabrico de marroquins, desconhecendo-se o paradeiro do processo, seguindo-se: João Rodrigues, em 1786, geralmente considerada a primeira, João Batista, em 1790, Manuel Francisco Galveias, para uma fábrica de sola, em 1790 e muitas outras daí em diante. 

Após as invasões francesas, em 1814, segundo o mapa estatístico apresentado por José Acúrcio das Neves, na comarca de Santarém laboravam ainda, embora em sérias dificuldades, 27 fábricas de curtumes, em que se incluem as de Alcanena, o segundo maior núcleo do género no país, embora sem comparação com as 84 registadas na comarca de Guimarães.

A atividade foi passando de pais para filhos de que é exemplo a provisão concedida aos filhos de João Rodrigues, José Rodrigues dos Santos e Joaquim Rodrigues, em 1797 bem como a de 1816 concedida a António Francisco Galveias, filho de Manuel Francisco Galveias que já figurava no mapa de 1814.

A atividade era, em geral, exercida em paralelo com os trabalhos agrícolas ou com o exercício de um ofício relacionado, como o de sapateiro, e põe-se ainda a hipótese da acumulação com a ocupação de almocreve, de muitos que os havia por estas paragens.

À fortuna acumulada com o fabrico e venda de curtumes acresceu a resultante da aplicação dos capitais em empréstimos a juros. Na segunda metade do séc. XIX aos que se ocupavam sobretudo dessa atividade chamavam-nos “argentes”.

Exemplo disso é a casa do antigo fabricante António Francisco Galveias, por cujo óbito se procedeu a inventário o qual hoje divulgamos.

António Francisco Galveias era filho de Manuel Francisco Galveias, casado com Ana Maria do Carmo, faleceu em setembro de 1833, com testamento, tendo-lhe sobrevivido 6 filhos: José Francisco Galveias, de 37 anos, Manuel Francisco Galveias, de 35, António Francisco Galveias, de 43, Maria José, de 26, Joaquim Francisco Galveias, de 25 e Ana Maria do Carmo, de 24.

Do património inventariado constam 14 bens móveis, avaliados em 34$720 rs, 14 bens de raiz, avaliados em 2.819$600 rs, e 328 dívidas ativas, no valor de 22.337$309 rs.

Do elenco dos bens de raiz faz parte:

“Huma terra tapada sobre si, a fonte do Outeiro, com huma Nora, e pegada a esta hum assento ou casco de Fabrica de Solla, aruinada, parte do Norte com Estrada, Sul com herdeiros de Jose Fernandes Lial, Poente com Maria do Rozario, que virão e avaliarão na quantia de quatro sentos mil reis – 400$000”

Bibliografia:

FEITOR, Gabriel de Oliveira – São Pedro de Alcanena: estudos e documentos da antiga freguesia. 2005

RAMOS, Joaquim Guilherme – Apontamentos de cronologia dos dados mais importantes do concelho de Alcanena [manuscrito]. Alcanena. 2003

PINTO, Maria Elisabete de Sousa – Os “Homens dos Couros”: marcas no presente do passado da indústria dos curtumes em Guimarães. [Consult. em 29-09-2022] Disponível em WWW:<http://www.ghp.ics.uminho.pt/eu/ficheiros%20de%20publica%C3%A7%C3%B5es/III%20Relat%C3%B3rio%20Cient%C3%ADfico%20FCT/Elisabete%20Pinto_congresso%20GMR.pdf>