INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 4. A Real Fábrica de Chitas de Torres Novas | Arquivo Distrital de Santarém
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1 de Setembro de 2022

INDÚSTRIAS E INDUSTRIAIS – 4. A Real Fábrica de Chitas de Torres Novas

1784 janeiro 23, Torres Novas

Obrigação por tempo de 5 anos que fez António Pereira, que vivia de sua fazenda, morador nos Moinhos de Santa Bárbara de seu filho Luís Pereira a David Suabe, mestre e Bartolomeu Juge, administrador da Real Fábrica de Chitas de Torres Novas para aprender a estampar.

PT/ADSTR/NOT/02CNTNV/001/0137 – Arquivo Distrital de Santarém, Cartório Notarial de Torres Novas -2.º Ofício, Notário Estêvão de Barros da Costa, n.º ord.378, f.89v. (parte) a 90

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Em 4 de agosto de 1780 são estabelecidas as condições com que a rainha concedia a Henrique Meuron e David Suabe a faculdade de estabelecerem nas vilas de Alenquer, de Torres Novas ou noutra qualquer de sua escolha uma fábrica de estampar e tingir fazendas brancas de linho ou de algodão da qualidade de chitas ” na forma das que se introduzem nestes reinos da Europa e da Ásia”.

Na Relação das Fábricas de 1788 é a terceira fábrica de estamparia a obter licença antecipando o frenesim que iria caraterizar o final de século: entre 1788 e 1800 foram passadas mais de cinquenta provisões (Pedreira, p.543).

Os sócios David Henrique Meuron e David Suabe, eram ambos suissos, o primeiro de Neuchatel, importante centro da industria de estamparia da Europa e o segundo de Bienne. Ao primeiro cabia a direção comercial e financeira e ao segundo a técnica.

Em 27 de dezembro do mesmo ano Bartolomeu Juge, francês, que nos primeiros anos da fábrica se apresenta como administrador, trespassa-lhes a parte da Quinta de Entre Águas, nos arrabaldes de Torres Novas junto ao rio Almonda, que tinha arrendado em 8 de julho a D. Gertrudes Maria de Oliveira, para aí estabelecerem a dita fábrica.

A 26 desse mês contrataram os primeiros aprendizes, mas é nos anos de 1884 e 1885 que fazem maior número de contratações. Entre finais de 1780 e maio de 1789 a sociedade Meuron & Suabe contratou 56 aprendizes de que é exemplo o documento que hoje divulgamos.

As estamparias compensavam a sua debilidade tecnológica com um grande concentração de mão-de-obra. Pedreira refere que em 1798, as 23 fábricas de estamparia existentes em Lisboa empregavam em média 30 trabalhadores, só a indústria do vidro apresentava concentração superior.

Os contratos foram feitos em observância da 3.ª condição: por 5 anos, sem se poderem ausentar da fábrica, e de entre indivíduos nacionais.

Neles se obrigavam a aprender “a estampar tudo o que nesta fábrica se fabrica” ou a “abrir estampas”. Especialidades mais complexas relacionadas com a coordenação do trabalho de impressão, desenho, recorte dos moldes e preparação de tintas eram habitualmente desempenhadas por mestres estrangeiros dos quais se dizia que não as queriam ensinar.

As fábricas reais transformaramse em centros de aprendizato mas é duvidoso que, além da disciplina interna exercida sobre o trabalho e sobre o trabalhador, tivessem espalhado grandes inovações de ordem técnica. (Dias, p.202)

A maioria dos contratos estabelece que no primeiro ano o aprendiz receberia $100 rs. por dia, no segundo ano $150 ou $160, no terceiro $200 e nos dois últimos anos $240 rs.

O emprego generalizado e intensivo de aprendizes gerou porém alguns conflitos. O facto de não possuírem Regimento, formado Corporação ou Procuradores de Classe não impediu os oficiais de estamparia de se manifestarem contra o despedimento e redução dos seus salários pedindo limites à contratação de aprendizes. A defesa da liberdade de contratação de aprendizes e de negociação de salarial como garante do desenvolvimento fabril justificou o indeferimento destes pedidos . 

 

Bibliografia:

DIAS, Luís Fernando de Carvalho – A Relação das fábricas de 1788. Boletim de Ciências Económicas . Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra . vol.III: 3 (Setembro-Dezembro 1954) . PDF disponível em http://hdl.handle.net/10316.2/25985 [acedido em 30-08-2022]

NEVES, José Acúrcio das – Memória sobre os meios de melhorar a indústria portuguesa, considerada nos seus diversos ramos (1820) . Introd. e notas de Jorge Custódio . 3.ª ed. Lisboa: Querco, 1983

IDEMVariedades sobre os objetos relacionados às artes, comércio e manufaturas considerados segundo os principios da economia politica . Lisboa: Imprensa Régia, 1814

PEDREIRA, Jorge Miguel – Indústria e negócio: a estamparia da região de Lisboa, 1780-1880 . Análise Social . Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. vol.XXVI : 112-113 (1991), pp.537-559 PDF disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223039378G4jBJ6jp8Ad51IT5.pdf [acedido em 16-08-2022]

ROCHA, Francisco Canais – Torres Novas nos primórdios da industrialização, séculos XVIII-XIX. in Nova Augusta. Torres Novas: Biblioteca Municipal . n.º5, 1991. pp.33-43

(ATUALIZADO EM 16-08-2023)

Esta notícia foi publicada em 1 de Setembro de 2022 e foi arquivada em: Documento em Destaque.